Quem sobe e desce a barreira precisa se apoiar no corrimão de madeira erguido de improviso
Da Folha de Pernambuco
Foto: Lidiane Mota/Folha de Pernambuco
Para subir a encosta localizada no fim da rua Santa Luzia, no bairro de Santo Aleixo, Jaboatão, é recomendável ter uma boa condição física. A partir de determinado ponto, os degraus começam a se misturar com o barro que obstrui a escadaria e derruba partes do pedregulho toda vez que chove. Quem sobe e desce a barreira precisa se apoiar no corrimão de madeira erguido de improviso pelo aposentado Djalma Severino dos Santos, que, nesta terça-feira (8), completa 70 anos. “Se não fosse eu, aqui não tinha jeito, não”, diz.
Seu Djalma não sabe dizer com precisão há quanto tempo vive na comunidade, onde os moradores se viram por conta própria para manter o mínimo de estrutura. Vivendo da aposentadoria, ele mora com a mulher, Amélia, 75, numa casa entre duas barreiras. Na frente, o casal contratou uma pessoa para construir uma espécie de muro de contenção. Atrás do quintal, a encosta é menos alta, mas nem por isso fora de perigo. Além da lama que cai com a chuva, outra casa está sendo construída quase por cima da residência dele. “O tanto aqui de barro que eu tirei. Quase meio metro”, conta. Do lado, o vizinho colocou uma lona também por conta própria.
“Se fosse por foto, isso já tinha se resolvido há muito tempo”, ironiza Maria José Silva da Paz, 70, que vive na entrada do morro. Na casa onde mora com a nora e dois dos seus seis filhos, desempregados, a aposentada, que sustenta a família com um salário mínimo do INSS, se acostumou a ver, nos últimos 29 anos, funcionários da Defesa Civil passando por lá para fazer vistoria. “Não tenho condições [financeiras] para pagar aluguel. Se eu tivesse, saía daqui”, diz. A tensão não é à toa. Quando chove, a lama desce com parte do pedregulho da escadaria que leva à casa de seu Djalma e à vizinhança de cima. “A gente não dorme, vive no medo”, relata. “Uma mulher grávida já caiu [da escada], rebolando e bateu aqui. Graças a Deus, ela não perdeu o bebê”.
Outro ponto de perigo vem do mato que reveste a barreira com árvores altas e bananeiras, plantas que, por acumularem muita água, mantêm o solo umedecido, aumentando o risco de deslizamentos. “A barreira não avisa quando vai cair. Quem mora na beira do rio, vê o rio enchendo e pode sair, mas a barreira cai de repente”, ressalta dona Maria. Há seis anos, após uma chuva mais intensa, reconstruiu a casa no mesmo lugar. “A barreira chegou à telha e a casa teve que ser derrubada. Essa aqui já é outra. Não tinha outro terreno para ir”, revela.
Na parte plana da comunidade, o canal que acompanha a avenida Marcos Freire está cheio de lixo. Segundo os moradores, a prefeitura fez uma limpeza no mês passado, mas o acúmulo de rejeitos tem voltado a crescer. “Isso aqui estava tudo fechado. Abriram tudo, colocaram a placa proibindo jogar lixo. E a turma continua fazendo imundície”, denuncia o pedreiro Cícero Antônio da Silva, 51. “Minha filha mora aqui ao lado, ela perdeu guarda-roupa, geladeira. A gente fica ilhado [quando chove]”.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Joaboatão informou que a Secretaria Municipal de Infraestrutura enviará uma equipe à rua Santa Luzia para avaliar o local e fazer um planejamento da obra de contenção da encosta, além da recuperação da escadaria de acesso às residências.
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